Cresci num
ambiente extremamente politizado, meu pai que havia sido policial civil e
deixou a carreira para ser portuário, após ter passado em concurso para
Conferente de Carga e Descarga do Porto de Santos. Viveu dentro de uma
categoria que lutou muito pela manutenção dos direitos dos trabalhadores
avulsos, desde seus colegas conferentes até os demais: consertadores,
estivadores, vigias de bordo, etc.
Pelo Decreto 89312/84, em seu artigo 5º,
esclarece que avulso é “quem presta serviços a diversas empresas, pertencendo
ou não a sindicato, inclusive o estivador, conferente ou semelhado”
Eu era
criança, mas lembro de sairmos nas ruas do município que morávamos unidos e
bradando: “Diretas Já”. Não entendia do que se tratava, hoje sei, que mesmo
incapaz de ter noção na época, posso dizer que participei delas. Voto Direto se
tornou uma realidade, essa era também uma época de conquistas dos portuários,
conquistas que, infelizmente, foram praticamente por água abaixo no
sancionamento da lei 8630/1993, por Itamar Franco.
Nesse clima de
más notícias, tendências políticas foram por mim sendo adquiridas, vivi os anos
90, minha adolescência e início da maioridade começando a acreditar naquele
PSDB com suas lideranças: Covas, FHC e Serra, eu já votava e procurava
argumentar com pessoas próximas sobre política. Ainda mais o fato de Covas ser
de Santos, cidade que nasci, estava o clima de segurança para os portuários. Empolgação
com a filosofia da Social Democracia era visível. Claro, a decepção com PSDB foi
inevitável.
Sendo destino
ou não, em 1997 ingressei no vestibular do Mackenzie, para o curso de Economia.
Ali estava a Rua Dona Maria Antônia, um espaço com menos de 500m de extensão, que
ficou conhecida em 1968 como dividindo dois mundos, duas ideologias. Revoluções
mundiais se resumiam naquele espaço. Sim, de um lado a Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Sociais da USP, do outro o Instituto Presbiteriano Mackenzie.
Dois gigantes da educação lutando sua Guerra Fria, ideológica, naquele
microcosmo. Mackenzie, que sabidamente,
teve membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).
Três anos que
estive na famosa Maria Antonia, percebi que a direita ainda prevalecia no
Mackenzie, porém a liberdade política, muito mais vigente, fez com que eu
fizesse amigos dos mais diversos municípios da Grande São Paulo, interior e
litoral, das mais diversas regiões de São Paulo, fosse Norte, Sul, Leste, Oeste
e ainda Central. Alguns de famílias mais bem sucedidas das redondezas, como,
por exemplo, Higienópolis e outros, de lugares mais precários. As tendências
políticas se dividiam.
Leituras: Hobbes,
Maquiavel, Voltaire, Keynes, Norberto Bobbio, Lakatos, Darcy Ribeiro, Viana
Moog, Ludwig Von Mises, dentre outros. Até mesmo Gustavo Franco com o “Plano
Real e seus Pressupostos”, palestras com Luis Nassif, dentre outros. Minha
formação estava ficando cada vez mais sólida e certo de que, estava com
convicções políticas bem embasadas.
Passei a ser
sindicalizado, em meu primeiro emprego efetivado, estava sempre em contato com
sindicalistas no ambiente de trabalho. Atraindo novos colegas a se filiarem. Simpatizei
com o PT, uma vez que minha família foi atingida diretamente pela omissão do
PSDB quando eleito e reeleitos nos anos 90 para o Governo Federal e Estadual. Funcionário
do Banco Nossa Caixa em 2005, também me filiei a um sindicato de fortes lutas,
Sindicato dos Bancários de Santos e Região. Continuei buscando novos colegas a
se unirem em nossas lutas. Vivi uma transição em que o Governo do Estado, sim o
PSDB que entregou estatais à iniciativa privada, desta vez o fez, menos
traumático, imaginei, sendo incorporada a antiga Caixa Econômica do Estado de
São Paulo, pelo Banco do Brasil.
Mais uma vez,
decepção tomou conta. Comissões que havia nas vendas feitas pelos funcionários
da Nossa Caixa, da noite para o dia, retiradas por completo. Eu que cheguei há
R$ 3.500,00 média mensal antes da incorporação, vi minha renda cair pela
metade, fui diagnosticado com um quadro depressivo, licença de 20 dias, 15 pela
empresa, 5 pelo INSS, para meu espanto, Indeferido na perícia do INSS. Piorei
ainda mais no meu quadro.
Minha mãe, que
se encontra com mal de Parkinson, e que maior parte da vida, trabalhou com alto
padrão de costura, não conseguiu sua aposentadoria por invalidez. Hoje não
consegue passar uma linha na agulha.
Meu pai, em
1998 conseguiu sua aposentadoria, em torno do teto INSS, hoje recebe algo em
torno de um terço do que deveria.
Esse INSS que
paga aposentadorias a trabalhadores rurais, amparo social a idosos, com
dinheiro da minha contribuição, da sua, dos meus pais, de todos nós. E quando
realmente estamos necessitando amparo, não se faz merecer. Não sou contra a
aposentadoria a estes casos que não contribuíram, mas sim que isso seja
colocado no montante do orçamento da União. Isso é despesa e não dinheiro contribuído.
Após alguns
dias sem assistir aos telejornais, hoje na maioria deles, foram noticiados o
emprego de José Dirceu no Hotel Saint Peter, contratado por R$ 20.000,00 mensais.
Um esquema envolvendo laranjas, escritório de advocacia e pessoas do Panamá. A
Siemens, que admitiu suspeita de pagar propina a agentes públicos do Brasil,
não será processada pelo Governo do Estado, pois o Tribunal de Justiça rejeitou
recurso da Procuradoria Geral do Estado, exigindo que o seja feito a todas as
empresas que agiram como cartel. Trens com mais de 40 anos, seriam reformados
por empresas, e que foi averiguado pelo Ministério Público, sairia mais barato
se fosse feito a compra de novos modelos.
Até onde
iremos? Políticas de desenvolvimento de transporte público, trens, ônibus, VLT,
duplicações de rodovias, sempre barrados no emaranhado de leis, nas questões
ambientais.
Aumento nos
combustíveis, o brasileiro, passará a gastar, em média mais R$ 5,00 para encher
o tanque a partir de hoje, estranhamente, em outra reportagem, são colocados em
média, 12 mil novos veículos em circulação todos os dias. Claro que não haverá
políticas para incremento das ferrovias, a sabotagem da malha férrea iniciada
nos anos de JK para que a indústria automobilística viesse ao Brasil, parece
não ter terminado.
Esse é o clima
de insatisfação que nos rodeia, o não acreditar nos dirigentes, na política,
nas batalhas: MDB x ARENA, PSDB X PT, EUA x URSS, USP x Mackenzie, vivo minha
eterna Guerra da Maria Antônia sem ídolos, sem mais conseguir acreditar no
futuro e que somente quem está na base da pirâmide é o lado fraco, oprimido,
passando um novo momento de feudalismo, não o que está nos livros de história,
mas o feudalismo corporativo vivido por nós neste exato momento.
Ilha Comprida,
04 de dezembro de 2013.
Dalton Brasil
Campos de Abreu, brasileiro, divorciado, contador